Fazenda Cachoeira Grande: atração imperdível do Vale do Café (RJ)

Quem visita o Vale do Café, no Rio de Janeiro, não pode deixar de conhecer uma fazenda que já produziu café. Centenárias, elas muitas vezes são lindas e sempre cheias de histórias. São cerca de 30 fazendas em diversas cidades, como Vassouras, Valença, Barra do Piraí, Rio das Flores, Mendes, Engenheiro Paulo de Frontin, entre outras. Um das que nós visitamos e adoramos foi a Fazenda Cachoeira Grande, em Vassouras. Além de jardins e matas lindos do lado de fora, ela tem um casarão bem conservado e donos muito simpáticos!

A visita começa do lado de fora, nos jardins da propriedade. O Jorge, morador da fazenda e marido da dona dela, nos explica ali que a fazenda foi fundada por um jovem nobre que viria a se tornar o Barão de Vassouras. Recém-casado, ele decidiu produzir café nas inúmeras montanhas daquele vale, mas o fez de maneira não a aproveitar melhor a terra e sim a ter mais controle do trabalho dos escravos.

A Fazenda Cachoeira Grande chegou a ter 1000 alqueires e 250 escravos trabalhando no plantio e colheita em 1850, quando a cidade de Vassouras foi a maior exportadora de café do mundo.

Também vemos as ruínas de petrechos usados para secar e beneficiar arroz, atividade que passou a ser desenvolvida em 1882, o lago, o terreno onde o café secava e a extinta cachoeira que dá nome à fazenda.

A mata e a área de secagem da Fazenda Cachoeira Grande. Foto: Marcelle Ribeiro.

Área de beneficiamento de arroz. Foto: Marcelle Ribeiro.

História da Fazenda Cachoeira Grande

Jorge nos conta que com a abolição da escravatura, sem ter a mão de obra gratuita dos escravos, o café não foi colhido e ficou no pé. O barão perdeu a fazenda para o banco. Naquela época, era comum depender de empréstimos para investir nas fazendas e fazer o capital girar. Além disso, cada escravo valia o valor equivalente a um carro popular nos dias de hoje e eram, portanto, um bem.

Depois disso, a fazenda foi mudando de donos e sendo desmembrada em vários pedaços. Alguns chegaram a tentar produzir leite na região, mas não foi a diante.

Naquela época, a produção do café migrou para São Paulo, porque lá as terras eram melhores e havia a mão de obra barata dos imigrantes italianos.

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Parte da fachada da fazenda, que é em T.

A Fazenda Cachoeira Grande chegou a ser comprada por pessoas que aproveitaram que a terra estava barata e queriam construir ali um cassino. No entanto, elas não chegaram a fazê-lo e deixaram a casa, construída em 1825, e terreno abandonados. Em consequência, ao longo de 20 anos, sem ninguém para tomar conta, a fazenda foi sendo depenada e furtada.

Até que um industrial italiano milionário, Francesco Caffarelli, comprou a fazenda em 1987 e investiu fortunas para reformá-la. Foram 4 anos de obras pesadas, que incluíam até restaurar o esburacado piso do casarão.

Dezoito quartos, nenhum banheiro

Foi nesta época que o casarão de 1800 metros quadrados e 65 janelas (!!) ganhou seu primeiro banheiro. Ele tinha 18 quartos e nenhum banheiro, porque esse cômodo não era comum no século XIX. As pessoas usavam penicos e o banho era com toalhinhas ou em banheiras (!!). Com a reforma, o número de quartos diminuiu e foram construídos banheiros!

Quarto e antiga vitrola. Foto: Marcelle Ribeiro.

Ao mesmo tempo que a casa era reformada, a esposa do italiano percorria leilões e antiquários em busca de móveis e objetos de decoração de época para a casa. Desta forma, adquiriu lustres de cristais de Viena, móveis de madeira trabalhada, piano, espelhos de Cuzco, quadros e tapetes franceses delicados, uma vitrola de 1916, um rádio enorme e até móveis que pertenceram à escritora Cecília Meireles, que tivemos a oportunidade de ver.

Oratório. Foto: Marcelle Ribeiro.

Lustre de cristal. Foto: Marcelle Ribeiro.

Piano na sala. Foto: Marcelle Ribeiro.

Além de usar o casarão para descanso, o industrial italiano investiu em gado e comprou vacas premiadas. Contudo, o investimento era muito maior que o retorno financeiro.

Depois de 8 anos do fim da reforma, Francesco morreu. Sua indústria estava falida (ele era sócio de uma empresa de embalagens de metal, que perdeu espaço para o plástico). Como a Fazenda Cachoeira Grande não se pagava, a viúva, Núbia, decidiu vender vacas, maquinário e outros bens, teve que demitir funcionários e arrendou parte das terras para a criação de gado.

Fazenda Cachoeira Grande hoje

Atualmente, a Fazenda Cachoeira Grande tem 80 alqueires (menos de 10% do tamanho do século XIX) e recebe turistas em visitas guiadas. Núbia e Jorge moram lá.

Em cerca de 2h, conhecemos boa parte dos cômodos do casarão, inclusive a sala de jantar onde a Princesa Isabel e Conde D´eu jantaram em 1884. Hoje ele tem uma mesa gigantesca de 7 metros de comprimento de madeira feita ali, louças de época e uma espreguiçadeira que pertenceu a Dom Pedro II.

Louça antiga decorada. Foto: Marcelle Ribeiro.

Mesa de madeira maciça. Foto: Marcelle Ribeiro.

À direita, cadeira que pertenceu a Dom Pedro II. Foto: Marcelle Ribeiro.

A cozinha tem armários da época da construção do casarão, enormes e com espaço para um conjunto de louças por semana.

Jorge mostra os armários enormes da cozinha. Foto: Marcelle Ribeiro.

Após a visita, tomamos um delicioso lanche da tarde e batemos mais papo com o casal proprietário da Fazenda Cachoeira Grande, que é pura simpatia. Bolo, pão de queijo, café e suco são servidos, tudo muito gostoso.

Pena que não visitamos a coleção de carros antigos da Fazenda Cachoeira Grande.

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Como visitar a Fazenda Cachoeira Grande

É preciso agendar a visita à Fazenda Cachoeira Grande. Há os seguintes tipos de visita:

Visita simples

Dura 1h30 e ocorre todos os dias, às 11h. Por R$ 70 por pessoa você conhece as áreas externas (lago, terreiro de secagem, área da extinta cachoeira) e os sete salões principais do casarão. É servido um café simples (uma xícara acompanhada de biscoito amanteigado ou suspiro).

Visita Completa

Com duração de 2 horas, ela acontece todos os dias às 15h e custa R$ 80. A diferença para a visita simples é o lanche, que tem café, pão de queijo, bolos caseiros, sucos e água. Foi essa a visita que fizemos.*

No momento do lanche também pode haver pequena apresentação de piano.

Visita Completa com museu de automóveis

Dura 3 horas e custa R$ 100. Acontece todos os dias às 15h e inclui o que foi apresentado na visita completa e mais uma visita guiada ao acervo de carros antigos e carruagens dentro da fazenda.

Um dos veículos é uma carruagem original da fazenda e carros produzidos a partir de 1908.

Crianças até 7 anos não pagam e entre 8 e 12 pagam meia entrada.

A estrada até a fazenda é boa, pavimentada.

Janelas enormes da fachada. Foto: Marcelle Ribeiro.

Palmeiras imperiais em frente à casa. Foto: Marcelle Ribeiro.

Hospedagem

Caso você queira se hospedar na Fazenda Cachoeira Grande, saiba que ela tem um chalé com duas suítes. Você pode reservar pelo Booking.

Veja mais dicas de Vassouras no vídeo abaixo!


*O Viciada em Viajar visitou a Fazenda Cachoeira Grande como cortesia dos proprietários. Este texto reflete a nossa real opinião.

 

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Marcelle Ribeiro: Jornalista, baiana, mas há mais de 20 anos moradora do Rio de Janeiro. Nos seus 40 anos de vida, já viajou sozinha e acompanhada. Casada, tutora do cão mais fofo do mundo e viciada em pesquisar novos destinos.

Veja os comentários. (3)

  • Visitamos a fazenda Cachoeira Grande que nos remeteu aos tempos da cultura do café , dos Baroes de Café. Tudo muito interessante , deve ser visitada mesmo.
    Destaque para a simpatia do casal Jorge e Núbia. Depois da visita a area externa, à coleção imperdivel de carros antigos, fomos recebidos numa grrande sala ao som do piano tocado por dona Nubia, inesquecível.