Eu tenho uma guarda-roupa cheio de roupas e sapatos. Também tenho armários cheios de outras coisas. Eu sonho em conhecer o mundo. Eu tenho uma conta bancária com menos dinheiro do que preciso para realizar esse sonho. Sim, hoje vamos falar de consumo consciente e viagem. E como comprar menos e viajar mais mudou a minha vida. E como pode mudar a sua vida também.
O ano era 2016, se não me engano. Eu trabalhava com assessoria de comunicação para empresas que tinham ações focadas em Sustentabilidade. E pensava em fazer uma pós-graduação em Sustentabilidade. Até que ao conversar com meu chefe na época sobre esse possível curso, ele me indicou um livro, “A história das coisas: Da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos“. “Começa por aí”, me disse meu chefe. Acabei não fazendo aquela pós. Mas minha cabeça mudou completamente depois desse livro.
Não vou fazer um resumo do livro. Mas, em essência, ele mostra, com números e muita pesquisa de campo, como produzir tantas “coisas” gera um impacto gigante no planeta em que vivemos. E como o consumo consciente deveria estar na agenda do dia de todos nós.
Sabe aquela blusinha que a gente comprou só porque tava baratinha na loja, e era bonitinha para usar em 1 ocasião? Gastamos água para produzi-la. Usamos pesticidas nos campos de algodão para produzi-la. Pagamos uma miséria para o camponês do país subdesenvolvido plantar esse algodão da blusinha. Poluímos o ar para transportá-la até nossa casa. E daí depois de usar a blusinha 1 ou 2 vezes, ela ficou lá esquecida no armário. Onde está o consumo consciente nisso?
Gastamos dinheiro para comprá-la. Gastamos recursos ambientais e humanos para produzi-la. Para quê?
Mas… o que isso tem a ver com viajar mais?
Minha “moeda” para avaliar meu consumo consciente
O dinheiro que a gente gasta para comprar “coisas” (como roupas, eletrônicos inúteis, bibelôs) poderíamos gastar com mais viagens. Eu brinco com minha família que eu tenho uma “moeda própria”. Cada vez que penso em comprar uma coisa, lembro que com R$ 300 eu pago uma pousadinha legal no Brasil. Nada chique, mas o suficiente para um descanso em um fim de semana. E eu fico bem mais feliz com um fim de semana fora do que com mais um vestido, mais uma saia, mais um sapato.
E olha, que maravilha: comprando menos, eu também ajudo a controlar a quantidade de recursos naturais que gastamos para produzir coisas. Além disso, contribuo para conter a quantidade de lixo que geramos. Sim, porque por mais que a gente se engane achando que doar a blusinha que está há anos no fundo do armário é a solução, um dia ela vai virar lixo.
Outra maneira de avaliar se você está praticando o consumo consciente é avaliar se não tem nada no seu guarda-roupas que sirva para aquela ocasião para a qual você estava pensando em comprar a roupa. Será que se você reformar um vestido que já tem, ele já não fica com uma cara nova? Ou se fizer uma combinação de peças que ainda não experimentou?
Além disso, o bom e tradicional “troca-troca” de roupas com amigos é sempre uma opção. Eu e minha mãe estávamos enjoadas das nossas bijuterias. O que fizemos? Eu cedi uma meia dúzia de peças a ela por um tempo, e ela fez o mesmo comigo. Demos uma cara nova aos nossos looks sem gastar 1 real.
O simples empréstimo mesmo de roupas também é uma boa alternativa. Eu passei 10 dias no frio de Ushuaia e El Calafate com roupas e casacos que peguei emprestado com amigos e familiares.
Como estou há alguns anos comprando pouquíssimas roupas
Tem alguns anos que eu praticamente não compro roupas ou sapatos pra mim. “Praticamente” por que? Por que eu compro 1 ou 2 peças por ano. Antes eu aproveitava as promoções de meio e final do ano dos shoppings para comprar diversas peças. Era zero consumo consciente. Hoje, eu compro o que eu realmente preciso. E uso ao máximo o que compro.
Em 2019, comprei só 1 maiô. Que é o mesmo que eu uso para ir para praia e para fazer natação 3x por semana. O que eu preciso, eu peço de presente de aniversário ou Natal para quem já costuma me dar presente nestas ocasiões. Resolvo um problema para a pessoa (eu sou uma chata para escolher roupas e todos dizem que sou uma pessoa difícil de presentear… rsrsrs) e um problema meu. Não gasto dinheiro e evito que se compre uma coisa que eu não vou usar (e que toda aquela água, energia, produtos químicos da produção de roupas tenham sido usados à toa).
Tenho 5 portas do guarda-roupas aqui de casa só com roupas e sapatos meus. Fruto de uma vida comprando coisa demais e de nenhuma preocupação com consumo consciente.
Mas tudo que tá lá que eu não uso, está à venda no site Enjoei. Não, eu não ganhei jabá do Enjoei para falar dele. Mas eu vendo muuuita coisa lá. E não só roupa, até jarrinho de vidro, roteador e caixa de som eu já vendi. Serve para ganhar um trocado para ajudar nas viagens, mas muito mais que isso: faz as “coisas” circularem!! Sim, porque aquele roupão de seda que eu usei 1 vez na minha lua de mel fez a alegria de uma noivinha do interior da Bahia (que comprou ele por um terço do que eu paguei).
Ah, e tem coisa que eu vendi em brechó e no site Mercado Livre também.
Mesmo durante as viagens, eu me esforço para praticar o consumo consciente. E compro o que faz sentido para o lugar. Um vestido de seda de um produtor local na Indonésia. Cangas de Bali em Bali, num mercado local. Um casaco super versátil comprado em Singapura, que eu desejei por anos e que hoje é um dos que mais uso. Vinho na Europa, Chile ou Argentina, fabricado lá e que no Brasil custa 3x mais. Isso é o que me lembro de ter comprado nos últimos 3 ou 4 anos.
Pensar e esperar antes de comprar. E vender o que não usa
Então, sempre que eu vou ao shopping, eu sigo uma das dicas do Marcos Silvestre, um querido especialista em finanças pessoais, que tem programa na TV, no rádio e uma penca de ótimos livros publicados.
Antes de comprar, saio da loja, e espero pelo menos uns 15 minutos. Preciso mesmo comprar isso? Está me fazendo tanta falta? Estas são algumas das coisas que eu penso. E às dicas do Marcos, acrescento uma: “comprar isso vai me deixar tão ou mais feliz que fazer um passeio na viagem, ou pagar uma diária de pousada”?
Em 4 anos no Enjoei, eu já ganhei mais de R$ 800 em vendas de coisas que eu não usava. Dá para fazer uma roadtrip num feriadão com isso. Dá para comprar uma passagem de avião para ver meu pai na Bahia (ele mora lá) e ainda sobra. Dá para fazer uma extravagância na viagem e pagar um hotel mais caro e mais chique. E eu fiz feliz quem comprou minhas coisas por uma pechincha! Ou seja, consumo consciente = mais viagens = mais felicidade.
Quer um bom exercício? Abra os seus armários e veja o que não usa. Mas não só o guarda-roupas. Veja também aquelas gavetinhas de tralhas, de bibelôs, de bijus. E o armário da cozinha, será que não tem uma travessa que você nunca usou lá? Eu vendi uma bandeja de café da manhã, por exemplo, que eu e maridão usamos 3 vezes em 10 anos de casados. E aquele maleiro cheio de coisas que você nunca mexe? Eu vendi minha mala com 7 anos de uso para uma pessoa que ia se mudar do Brasil para o exterior e só precisava de uma mala para esta única ocasião.
Consumo consciente e o impacto ambiental das viagens
Tá, é lindo falar de consumo consciente para viajar mais., mas… viajar também causa impactos ao meio ambiente. Viajar de avião, de ônibus, de trem, de carro, faz a gente emitir gás carbônico e, isso gera consequências para o efeito estufa, o aquecimento global, o derretimento de calotas polares e degradação ambiental. O pessoal do blog 360 Meridianos já escreveu especificamente sobre o impacto ecológico das viagens de avião aqui, vale a leitura.
Mas como diminuir esse impacto das viagens? Uma das maneiras é tornando os voos mais eficientes ambientalmente: as companhias aéreas precisam pensar em formas mais eficientes de queimar combustível, investir em combustíveis sustentáveis, melhorar a eficiência das rotas, e compensar as emissões de gás carbônico.
Porém, os passageiros também podem fazer sua parte, mesmo com o consumo consciente na hora de comprar a passagem! Esta reportagem da Época dá algumas dicas que ajudam a diminuir o impacto ambiental das suas viagens de avião. Entre elas, estão levar menos bagagem, preferir voos diretos, evitar voar na classe executiva ou primeira classe, e usar aeroportos mais centrais (não tão afastados do centro da cidade). Além disso, outra opção é preferir outros meios de transporte que não o avião para viajar sempre que possível.
Prefere ver as dicas em vídeo? Assista abaixo!
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